Entrevista

EMOCIONAR AGORA, SEM PREVER O FUTURO

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Luchi: provar todos os dias

Após um quase ano sabático, iniciado em janeiro de 2020 quando deixou a sociedade e o comando criativo da Lew,Lara/TBWA, Felipe Luchi mudou o rumo para se unir ao G8 Group, de Edgard Soares Filho, no projeto de uma nova produtora de filmes.

Na Santeria, lançada em dezembro daquele ano, assumiu a direção criativa e participação como sócio.

Desde então, a Santeria conquistou títulos de Melhor Produtora do Brasil, além da mais premiada e de troféus e Grand Prix.

Carioca, Luchi atuou em agências como Talent e Leo Burnet, além da Lew’Lara, onde foi de diretor de arte a CCO em duas passagens.

Entre os prêmios recebidos pela Santeria, destaque para um Grand Prix em Cannes, um Grand Ojo, um Grand Prix do Design Awards Brasileiro, troféus no  Cyclop Latino, D&AD, New York Festival, Festival Iberoamericano de La Creatividad (FIAP), London International Awards e Festival do Clube de Criação.

Nesta entrevista ele conta como foi essa mudança de caminho e a busca pela qualidade criativa na produção de filmes.

Depois de pouco mais de um ano, qual o sentimento de ter trocado o trabalho em agência pelo comando criativo de uma produtora?

É curioso pensar nisso. Não sinto que houve uma troca, mas um mergulho ainda maior na indústria da criatividade. Eu trabalho com criação há mais de 20 anos e sigo trabalhando nisso. A Santeira me dá uma perspectiva completamente nova sobre criatividade. Em produção, só para dar um exemplo, as equipes são muito mais diversas que em agências, pois são montadas a partir da história que vai ser contada. O lugar de fala é levado muito a sério. A produção de um filme envolve uma centena de profissionais de disciplinas diferentes, adicionando aos roteiros mais e mais camadas de criatividade. Isso é muito legal. Na Santeria não tenho um papel criativo como em agência, mas esse olhar executivo e a troca com tanta gente criativa é muito enriquecedor. O sentimento é de alegria, humildade e muito crescimento.

No que você entende que os mais de 20 anos elaborando campanhas contribuíram para a atividade de dirigir criativamente a produção de filmes?

Meu papel é fazer a ponte entre os diretores e os criativos e ajudar da melhor maneira possível a estabelecermos um critério alto na produção. As ideias já chegam prontas, mas, com a minha experiência, ajudo os diretores e diretoras e entenderem de onde elas vieram, o que está em jogo e os encorajo a deixá-las ainda melhores com seus olhares. O pior erro que eu poderia cometer é tentar ser um criativo de agência dentro da produtora ou ser um dublê do diretor de cena junto com a agência. Mas ajudo a manter todos de olho na ideia. São as ideias o centro de tudo o que fazemos.

Na sua opinião a mudança de rumo de criativos agora atuando em produtoras é uma tendência natural da atividade ou o preenchimento de uma lacuna até então encoberta?

Criativos pulam de um lado para o outro. E agora, além de pular para produtoras, pulam para clientes, redes sociais, startups, estúdios criativos. Pulam para editoras e escritórios de design, de branding, rádios e canais de TV. São muitos os exemplos. Acho incrível rediscutir os formatos e ver que a criatividade na comunicação esteja sendo tão valorizada em outros espaços além das agências. A Santeria quer ser a grande parceira da criatividade brasileira, seja onde os criativos estiverem.

A satisfação de conquistar prêmios com filmes é a mesma ou diferente dos troféus ganhos com campanhas publicitárias?

O começo da Santeria não poderia ter sido melhor. Além de crescer praticamente o dobro do que projetamos inicialmente, uma projeção que já tinha uma boa dose de otimismo, tivemos trabalhos que arrebataram muitos prêmios pelo mundo. O Grupo G8, principal investidor da produtora, entendeu desde o dia 1 que investir em prêmios é decisivo para quem quer viver da criatividade. Muitas empresas pelo mundo investem em inovação. Investir em prêmios é a nossa maneira de fazer o mesmo. Essa postura moldou a Santeria, está no nosso DNA. Por isso, logo em nosso primeiro ano, fomos a produtora brasileira mais premiada. Os diretores brasileiros e nossas produtoras possuem um grau de excelência muito alto. A união da publicidade, do streaming e dos videoclipes criaram um ambiente muito favorável para o áudiovisual brasileiro. Ter conseguido tanto destaque dentro de um cenário desses é muito gratificante. Mérito total dos diretores da Santería. O Rafa Damy, para dar um exemplo, foi muito premiado. Muito mesmo. E agora, já estamos com novos projetos que temos muita confiança que desempenharão bem nos festivais pelo mundo.

A Santeria tem se destacado pela qualidade de suas produções. O mercado já aposta na produtora para o sucesso de seus projetos ou vocês estimulam essa parceria com ideias diferenciadas para as realizações?

A indústria publicitária brasileira é muito competitiva. Não somos uma unanimidade. Até porque a unanimidade é burra. Somos o que somos pois todos os dias temos que nos provar contra algumas das melhores produtoras e talentos do mundo. Nossa qualidade aumenta assim. Somos o que somos, pois as agências também nos cobram por mais qualidade.

Como você vê o futuro da comunicação e do marketing com a evolução tecnológica e o surgimento de novas mídias, especialmente as redes sociais?

Taí uma pergunta difícil. Acho que quando se tenta fazer um trabalho criativo, estamos olhando para o presente, para o agora. Acredito que ninguém que tenha uma boa ideia ou que conta uma história incrível, esteja de olho no futuro. Os briefings exigem que a gente pense e produza algo que emocione, provoque, toque, desafie alguém hoje. Então criativos não são bons em prever o futuro. Talvez alguém de estratégia possa responder melhor essa pergunta. Ser criativo de verdade e emocionar no presente já é uma tarefa difícil demais.