Polêmica

A ÉTICA ADMITE RETRATAÇÃO

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Há 9 anos, no Cannes Lions de 2006, por iniciativa do então presidente Paulo Giovanni, a Giovanni,FCB, recusou-se a receber o Leão de Bronze conquistado por campanha da ONG IPAS, entidade que defende os direitos decisórios da mulher com relação a situações de aborto. Na ocasião, a medida provocou inclusive polêmica interna, já que a agência declarou não apoiar a causa e nem reconhecer o anunciante como cliente. Na última semana, caso similar envolveu a Leo Burnett Tailor Made e a peça “The Shemale Calendar” (O Calendário Travesti), assinada pela Meritor Brasil, fabricante de autopeças, sobre os prejuízos de não se utilizar peças originais. Premiada no 39º Anuário do Clube de Criação, a peça foi alvo de centenas de comentários na página do anuário no Facebook, a maioria com críticas e acusações de “transfobia”. Com o título peças falsas “Se não é original, mais cedo ou mais tarde, você sente a diferença”, o calendário compara travestis a peças falsas. Direcionado às paredes de mecânicas automotivas, alerta sobre o perigo de se adquirir peças não originais apenas em razão do baixo custo, sem considerar dano aos veículos. Imediatamente após a instalação da polêmica, Marcelo Reis, co-presidente da Leo Burnett Tailor Made emitiu nota oficial afirmando que o calendário foi criado de forma equivocada, mas sem o intuito de ofender ninguém. “Já na primeira semana de distribuição, solicitamos para as oficinas que não fosse fixado nas paredes. A peça foi inscrita no festival do Clube de Criação por uma falha nossa. Somos uma empresa que sempre respeitou e apoiou a diversidade. Peço desculpas e lamentamos o constrangimento causado”, diz o documento. Assim como no caso da ONG IPAS, detectou-se que a peça é de autoria de profissionais que já não pertencem mais aos quadros da agência, e produzido para o ano de 2013. A Meritor Brasil, por sua vez, alegou que algum colaborador possa ter aprovado inapropriadamente o uso de seu nome e logotipo na campanha. O que fica de exemplo para o mercado é que mais uma vez a retratação e o pedido de desculpas, reconhecendo o erro, parte de uma agência até há pouco presidida pelo mesmo Paulo Giovanni, que só deixou o cargo para assumir função de maior relevância na holding Publicis. E a lição que erros podem ser reparados com uma simples e humilde atitude. Uma falha que sem dúvida deixa uma mancha, porém insuficiente para apagar a imagem de uma das agências mais premiadas do país, com cases de reconhecido sucesso, que atestam sua criatividade.