Entrevista

O PRIMEIRO ROMANCE O AUTOR NUNCA ESQUECE

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Stalimir: um outro exercício de escrita

Stalimir Vieira, publicitário, com trabalhos em agências como DPZ, W/Brasil, DDB Argentina, Bates, além de sócio da DLS, depois LS, autor dos livros “Raciocínio Criativo” e “Marca: O que o coração não sente os olhos não veem”, mudou sua rota literária e lançou na semana passada o romance “Jenifer”.

Também foi professor e coordenador da cadeira de Criação e Inovação da Escola Superior de Propaganda e Marketing, diretor da APP e Abap e membro do Conselho de Ética do Conar. É autor do famoso slogan “Aruba é do Caribe”.

Atualmente atende agências e anunciantes através da sua Base de Marketing, tendo desenvolvido ainda projetos de campanhas políticas pelo Brasil.

Nesta entrevista, ele fala da sua mais nova obra, que aborda a sexualidade juvenil, descobertas, assedio, abusos e libertação.

Por que decidiu trocar os livros técnicos de criatividade por um romance?

Na verdade, não se trata de uma troca. Apenas de um outro exercício de escrita, um outro jeito de trabalhar o processo criativo. Eu sempre escrevi ficção, mas nunca havia assumido que um livro estava pronto, a ponto de publicá-lo. Costumo ficar trabalhando ao longo dos anos, reescrevendo, reescrevendo, até achar que dá pra mostrar. A primeira versão do Jenifer, por exemplo, foi escrita em 1999, quando eu ainda trabalhava em Buenos Aires.

Em “Jenifer” você também se baseou em briefings que recebeu sobre adolescentes durante a carreira?

Eu chamo “Jenifer” de um exercício de ousadia. Talvez, o maior a que me propus, em termos de criação. Afinal, trato de um assunto com que tenho pouquíssima familiaridade. Somado, ainda, ao atrevimento do texto ser narrado por uma personagem feminina. Digamos que é 99% de intuição, e é aí que acho que reside o mistério do livro. Pré testado há alguns anos, teve uma aceitação surpreendente entre adolescentes. O mundo delas é um mundo complexo, mas que, exatamente por sua riqueza de possibilidades, permite inúmeras suposições plausíveis, através do uso livre da imaginação.

Quanto tem de experiência pessoal no livro?

Não há uma relação direta com experiências pessoais, embora, claro, já tendo sido adolescente, tenha convivido com adolescentes. Mas em “Jenifer”, há, principalmente, uma expressão muito sensível daquilo que a vida me sinalizou sobre elas. Todo o encanto que carregam, revelado na espontaneidade, na naturalidade, na força do instinto, no desafio de domar a própria natureza, na sede da experiência, convivendo com o receio dessa mesma experiência, tudo isso é muito borbulhante. Acho impossível ficar indiferente, principalmente para quem trabalha com escrever o que a imaginação revela.

Jenifer é alguém que conheceu na vida real ou só uma personagem para o tema sexualidade na adolescência?

Não me baseei em ninguém, particularmente. Eu diria que Jenifer é resultado de um apanhado de impressões. Compactei esse apanhado na personagem e, a partir aí, deixei fluir o que pareceu natural que ela inspirasse. Sem nenhum receio, nenhuma censura e nenhuma preocupação. Cuidei apenas de tratar a forma de contar da melhor maneira que pudesse. O livro não tem a pretensão de educar, explicar ou denunciar. Apenas contar. Ele, inclusive, tem passagens bastante cruas, porque não é uma história de insinuações, mas de confidências.

Você que só tem um filho homem se imaginou tratando da sexualidade de uma filha?

Não tinha me imaginado, até escrever “Jenifer”. Esse romance acabou se tornando revelador, digamos, de tudo o que eu gostaria que uma suposta filha minha adolescente soubesse sobre a vida, exatamente no momento em estivesse exposta às circunstâncias narradas na história. Porque o livro trata de uma conversa íntima. Os assuntos não são tratados com qualquer pudor hipócrita, porque há intimidade e confiança envolvidas.

O que o publicitário Stalimir anda fazendo atualmente no mercado?

Tenho trabalhado menos do que poderia, mas, por outro lado, sabendo um pouco sobre a vida de quem tem trabalhado tanto ou mais do que poderia, fico aliviado.