Polêmica

PRAZOS DE PAGAMENTO SUFOCAM O SETOR

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A imposição monocrática de condições e prazos de pagamento por parte de algumas das grandes empresas anunciantes está tornando cada vez mais capenga a cadeia da comunicação publicitária e levando à uma situação insustentável os prestadores de serviços.

Se já estava difícil atender demandas com prazos de 90 dias para quitação de orçamentos, novos prazos que se estendem por 120 e em alguns casos a até 210 dias, tornou essa relação inaceitável.

A justificativa de adequação à concorrência de mercado e necessidade de redução de custos, não se sustenta quando se verifica que a produção publicitária representa apenas 5% das verbas de marketing, enquanto o volume de 80% é aplicado em compra de mídia e saldado a curto prazo junto aos veículos de comunicação.

Acordos para antecipação de 50% do orçamento para custos imediatos começaram a ser feitos no II Fórum da Propaganda em 2003 e reafirmados no III Fórum de Produção Publicitária, há 5 anos, nunca foram cumpridos.

Diante desse cenário, várias produtoras de imagem e som, empresas de eventos e promoção estão em iminência falimentar.

ABA não se envolve

Sandra: livre negociação

“Na verdade, não participamos do III Fórum de Produção Publicitária, pois não concordamos com as premissas na época. Defendemos a livre negociação. As negociações são livres e são de responsabilidade das empresas e fornecedores, pois os prazos são previamente acordados”, posiciona-se Sandra Martinelli, presidente executiva da Associação Brasileira de Anunciantes.

ABAP: agências também sofrem

Consultor Jurídico da Associação Brasileira das Agências de Propaganda, o advogado Paulo Gomes lembra que estas, como intermediárias das notas fiscais emitidas pelos fornecedores, também só recebem seus honorários no prazo estipulado pelos clientes.

Gomes: significativos

Em preparação do IV Fórum da Propaganda, previsto para março de 2017, a ABAP lamenta que acordos celebrados na segunda edição do evento, em 2003, não estejam sendo cumpridos.

Como explica o Dr. Paulo Gomes, as agências associadas são orientadas a ‘insistir’ com os anunciantes sobre a necessidade de realizarem pagamentos por serviços nas formas estabelecidas, com 50% de adiantamento, já que as produtoras são obrigadas a cumprir prazos com profissionais contratados regidos por dissídio coletivo.

Ele ressalta, porém, que esse desvirtuamento de conduta ocorre apenas relação a alguns anunciantes. “São poucos, mas são os maiores, o que realmente é muito significativo”, afirma.

APRO quer ser parceira

Schmidt: pacto

“A situação está ficando cada dia mais difícil. Somos tratados como fornecedores e não como parceiros, que produzem peças fundamentais para a comunicação das marcas”, reclama Paulo Schmidt, presidente da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais.

Segundo ele, a entidade vai realizar em maio de 2017 um evento para divulgar a repactuação das ‘melhores práticas’, o que inclui a condição de pagamento.

“A ABA será convidada mas sempre se esquiva. Não há como estabelecer posições em bloco pelas produtoras.  Isto confronta a livre concorrência”, diz.

A alternativa viável seria um acordo, um pacto. As produtoras não têm capital de giro, não podem assumir custos financeiros, já que as suas margens são muito pequenas e não podem financiar o anunciante”, conclui.

APROSOM lembra de prorrogação

Ana: situação insustentável

“Além dos prazos inviáveis, ainda sofremos com atraso e até prorrogação de datas após o vencimento”, desabafa Ana Nogueira, diretora executiva da Associação das Produtoras de Fonogramas Publicitários.

Como ela diz, a APROSOM está extremamente preocupada quanto às dificuldades que as produtoras vêm encontrando para cumprir seus compromissos financeiros.

As produtoras assumem um volume expressivo de encargos, como contratação de profissionais especializados, pagamento de funcionários, locações de equipamentos e impostos, para saldar no prazo máximo de 30 dias.

“Com isso, as produtoras muitas vezes são obrigadas a adquirir empréstimos bancários para cumprir suas obrigações financeiras, tornando esta situação ainda mais difícil”, completa.

AMPRO: agência não é Banco

Celio: não somos banco

“Entre os trabalhos da Associação de Marketing Promocional está a conscientização do mercado por um relacionamento ético e sustentável entre agências e clientes, o que inclui buscar a melhor solução para minimizar os aceites de prazos de pagamento”, declara Celio Ashcar Júnior, chairman da entidade.

Ele lembra que em 2015 a AMPRO lançou o conjunto de recomendações “Princípios de Valor”, divulgado às agências do setor através de campanhas ou workshops realizados em diversas cidades do Brasil.

“O aumento do prazo de pagamento por parte dos clientes torna em muitos casos a relação insustentável. O cliente precisa entender que somos agência e não banco ou instituição financeira. Não faz o menor sentido uma agência financiar o trabalho de seu cliente”, finaliza.