Entrevista

UM CRIATIVO CONTAMINADO COM BRASILIDADE

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Saldanha: evolução para o digital

A carreira do redator Fred Saldanha começou aos 19 anos quando ele trocou o último ano da faculdade por uma vaga na Young & Rubicam de Lisboa, agência que no início dos anos 90 promoveu uma revolução na publicidade de Portugal. Nessa época, comandado por Edson Athayde, um time de profissionais brasileiros espalhou naquele País um modelo despojado e divertido de criar publicidade e uma vontade imensa de ganhar Leões em Cannes. Saldanha garante que foi contaminado por esse jeito brasileiro de fazer propaganda. Desde então, conquistou 26 Leões, trabalhou também no Brasil e na Inglaterra. Desde 2008 era diretor de Criação da Ogilvy em São Paulo. Agora é o novo vice-presidente de Criação da Agência Click Isobar, onde comandará uma equipe de uma centena de profissionais.  “Escolhemos Fred Saldanha para assumir a Criação da agência pela solidez de sua trajetória, por sua veia criativa e também por sua expertise à frente de contas globais” justifica Abel Reis, presidente da Click. Aqui Saldanha conta sua aventura:

Você iniciou sua carreira na Y&R de Lisboa, no início dos anos 90, quando essa agência já era um reduto de publicitários brasileiros. No que eles contribuíram com o desenvolvimento de sua carreira?

Contribuíram muito. O brasileiro levou para Lisboa uma linguagem mais solta e divertida. Levou também a vontade de ganhar leões com um trabalho mais ousado e original. Na época havia uma seriedade exagerada na publicidade portuguesa. Um discurso pesado e talvez um pouco distante da realidade. O brasileiro foi chegando e criando campanhas do seu jeito mais descontraído. Isso acabou contaminando toda uma geração de criativos, eu incluído. Sem falar que o meu primeiro dupla em propaganda foi o talentoso paulista Paulo Diehl, hoje diretor de filmes da Rebolución.

Na Edson, não te incomodou o fato da agência ter o nome de outro sócio, o brasileiro Edson Athayde?

Não, nem pensar. Eu tinha apenas 23 anos. Era um moleque. Tudo bem, tinha acabado de sair da DM9 e já tinha sido premiado em Cannes. Mas o Edson era mais que um publicitário, era uma figura pública. O nome dele agregava valor e abria muitas portas para new business. O termo propaganda em Portugal vai estar para sempre associado ao nome dele.

Essa proximidade com criativos do Brasil foi que estimulou a vir para o País para trabalhar na DM9?

Também, claro. Mas na época havia uma chance de abrir a DM9 em Lisboa, em parceria com o Edson. Acabei vindo para São Paulo para conhecer melhor a filosofia de trabalho da agência, trabalhando como um criativo normal. Como a ideia de abrir em Portugal acabou não indo pra frente, surgiu a Edson Comunicação.

Antes de chegar à Ogilvy, a convite do Anselmo, você atuou em outros países também. Já havia trabalhado com ele antes?

Sim, já trabalhei em vários países, seja em agências ou em projetos pontuais. Com o Anselmo, trabalhei na Y&R de Lisboa em 1994. Trabalhamos e conquistamos muita coisa juntos na época.

Com tanta experiência na área e 26 Leões no currículo, como será essa passagem para uma agência estritamente digital como a Click?

Eu vejo isso como uma passagem natural. Uma evolução, para ser mais exato. Uma coisa é certa: o negócio de propaganda sempre será sobre ideias. Independente da mídia. Só que hoje, mais do que nunca, as marcas precisam de ideias que falem com as pessoas. E essas ideias precisam contar uma história que seja relevante para as pessoas, com as quais elas se identifiquem. O mundo digital tem essa vantagem de provocar, estimular e continuar esse diálogo de uma forma orgânica e bem simples. O mundo digital nos dá mais possibilidades. Seja para viralizar um filme de 30 segundos, ou seja para simplesmente montar o carro que você viu nesse comercial. O meu grande desafio na Agência Click é agregar o melhor desses dois mundos