Entrevista

PROPAGANDA PRECISA DE MAIS DIVERSIDADE

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Marcia: começa por cumprir a lei

Criado em 2008 como uma consultoria, o atual grupo Talento Incluir trabalha em várias frentes visando abrir o mercado de trabalho para profissionais com deficiência. Desde então, 8 mil deles foram incluídos. Mas, mais do que isso, o grupo cresceu e hoje atua também através das empresas Uinstock, banco de imagens de diversidade de brasileiros, e UinHub, plataforma para atender demandas de pessoas com deficiência.

Ambas são comandadas pela Head Marcia Barreto, formada em Administração de Empresas e especializações em Negócios pela FIA e Marketing pela ESPM. Com 20 anos de experiência no mercado financeiro, já atuou nos bancos Santander e BTG Pactual.

Nesta entrevista, ela fala também sobre a disparidade entre a população negra do país e sua pouca representatividade nas campanhas publicitárias, fotos e vídeos, além o reflexo dessa discriminação nos quadros de colaboradores das empresas incluindo idosos, mulheres, público LGBTQIAP+ e indígenas.

Que ações efetivamente o grupo Talento Incluir sugere ao mercado publicitário para minimizar a questão da discriminação?

As pessoas se sentem discriminadas por comerciais. Atenta a esse cenário e com o intuito de colaborar com o aumento da diversidade e representatividade em campanhas publicitárias e demais peças de comunicação visual, entendemos que o mercado como um todo, desde a concepção de qualquer ideia, pode mudar a forma como se comunica. As pessoas passaram a consumir a partir de uma identificação com sua história e suas diferenças. Pensar na representatividade é mais que colocar pessoas diversas em uma propaganda ou campanha, mas pensar em times diversos que a partir de suas perspectivas desenvolvam as comunicações mais inclusivas e representativas. Temos certeza de que uma empresa preocupada com a diversidade a partir dos seus colaboradores, ao receber um briefing de um cliente para uma campanha, pensará de forma plural. No UinStock, temos o papel de assegurar que as empresas tenham brasileiros reais e diversos dos grupos menos representados por meio das imagens que oferecemos para a ilustração das comunicações internas na publicidade ou na propaganda.

Como esse grupo vê iniciativas de agências, escolas, anunciantes etc., visando formar pessoas para ampliar a inclusão?

A formação é sempre importante e tudo que for feito para aumentar as oportunidades para as pessoas com deficiência, 45+ etc. é bem-vindo. Percebemos que já existe o interesse na inclusão, mas ainda é preciso avançar neste tema É importante ressaltar que apenas o interesse sem conhecimento incorre na possibilidade do erro e das pessoas não se sentirem representadas, como por exemplo imagens de pessoas sem deficiência fingindo ser uma pessoas com deficiência (cripface) em cadeira de rodas. Percebemos nas pesquisas que as iniciativas estão mais focadas em grupos que discutem o tema há mais tempo,como o movimento de pessoas negras, enquanto outros são quase invisíveis.

Você acha que leis ou regras resolvem o problema? Ou seria melhor difundir pesquisas a fim de sensibilizar os responsáveis pelo marketing e campanhas de propaganda?

A verdade é que a inclusão começa pelo cumprimento da lei, mas é preciso acontecer de fato por convicção e não por obrigação. Quando a inclusão é feita por imposição, por obrigação para o cumprimento de uma lei, a qualidade da inclusão fica comprometida. O mesmo é quando ela ocorre por conveniência, porque neste caso, a inclusão está relacionada à atração de novos públicos e aumento de lucro apenas ou ainda por questões de imagem, quando empresas querem ser reconhecidas pela pauta ESG. Estas ações ajudam sim, mas não mudam completamente o cenário.

Qual é o resultado prático das ações do grupo Talento Incluir desde sua fundação?

O grupo Talento Incluir tem como propósito aumentar a diversidade no mercado de trabalho. Há 15 anos, foi fundado por uma mulher cadeirante, Carolina Ignarra, com sua amiga e sócia Juliana Ramalho, com o propósito de inserir a pessoa com deficiência no mercado de trabalho e preparar empresas para ações que levem à inclusão, diversidade e equidade. O fato é que empresas diversas são mais produtivas e criativas e a pessoa com deficiência que corresponde a 8,4% da população brasileira, segundo dados do IBGE de 2019. Não podemos negligenciar que pessoas com deficiência coexistem na sociedade, se relacionam, trabalham, consomem e não podem ficar à margem da perspectiva do mercado de trabalho, produtos, serviços e políticas públicas que atingem todo seu ecossistema. Em sua trajetória, o grupo aplicou Programas de Inclusão em mais de 400 empresas de diversos setores, como Mercado Livre, Syngenta, Gol, Carrefour, Grupo Boticário, Raia Drogasil, Bradesco, Tereos, PwC PricewaterhouseCoopers, GRU Airport, AccorHotels, Avanade e WhirlPool, entre outras.