Ação Social

O RACISMO TAMBÉM ESTÁ NA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

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Mesmo sem fornecer qualquer descrição física, um escritor negro pede à Inteligência Artificial em ângulo frontal e imagem realista, o rosto de um assaltante apontando sua arma para um carro no semáforo.

O resultado sugerido inclui somente fotos de homens negros.

O projeto “The Prompt Bias” (O viés do Prompt), expõe de forma sensível, mas visceral, o racismo estrutural presente em ferramentas criativas alimentadas por inteligência artificial.

A ação é assinada pela CUFA (Central Única das Favelas), e a FNA (Frente Nacional Antirracista), em parceria com a Favela Filmes e a Africa Creative.

“The Prompt Bias” apresenta uma denúncia mais que urgente na indústria global da comunicação: a presença do racismo estrutural nos bastidores do processo criativo das produções audiovisuais.

A veiculação do filme produzido pela Primo Content com direção da dupla Salsa e fotogorafia de Fábio Polito, é o início de um movimento de mobilização social para sensibilizar e conscientizar sobre o quanto os padrões racistas podem ser perpetuados e amplificados pelas tecnologias modernas.

Expõe como as ferramentas criativas dinamizadas por inteligência artificial podem difundir de forma sutil e insidiosa preconceitos e discriminações. O filme tem trilha sonora original composta por David Bessler da Halley Sound.

“Toda inteligência artificial veio de uma inteligência natural. Isso é óbvio, mas também é evidente que essa inteligência original impregnou o algoritmo com seus vieses algumas vezes racistas, propagados e difundidos por máquinas que estão fugindo do controle humano. Não podemos naturalizar o racismo jamais. Devemos propor um novo código antirracista que repense a forma como a sociedade olha para pretos e pretas, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Essa é a grande denúncia e provocação que a CUFA faz neste filme”, exlica Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas.

A produção explora ficcionalmente um exemplo concreto e impactante presente no cotidiano de profissionais do audiovisual e da comunicação em geral, ilustrando como essas tecnologias, se não forem cuidadosamente desenvolvidas, monitoradas e ajustadas com um viés antirracista, podem perpetuar desigualdades históricas e sociais.

“Nós lidamos com ferramentas de IA de geração de imagens e de textos o tempo todo em nosso dia a dia, criando histórias, filmes, clipes e comerciais. E em uma de nossas rotineiras pesquisas, nos confrontamos com esse chocante viés racista em umas das mais prestigiadas plataformas de geração de imagens. Imediatamente nos sentimos compelidos a reproduzir aquela experiência e compartilhar o sentimento de perplexidade diante de imagens impregnadas de preconceitos e transformar esse sentimento em um filme” comentam os diretores de cena Diego Santana Claudino e Guto Azevedo, que formam a dupla Salsa, da produtora Primo Content.

Para além do filme, o projeto também prevê uma imersão com jovens que fazem parte da produtora Favela Filmes, coautora do projeto e braço audiovisual da Central Única das Favelas.

A ideia é discutir como as novas gerações de cineastas, filmakers, publicitários e profissionais do audiovisual lidam com esses desafios. Esses encontros vão gerar um relatório de reflexões para ser levado a empresas de programação e linguagem, a fim de que esses códigos e algoritmos sejam revistos e adotem uma perspectiva mais solidária e antirracista.

“Queremos aproveitar essa oportunidade para discutir uma forma de racismo intrínseco nas nossas ferramentas de trabalho. Mas queremos fazer isso em cooperação com as próprias vítimas do racismo: pretas e pretos que trabalham na nossa indústria e sentem todo o peso da discriminação incessante que, agora, como vemos, é também perpetuada pelas nossas próprias ferramentas criativas. Nada sobre nós, sem nós,” afirma John Oliveira, CEO da Favela Filmes.

Todo o projeto conta com uma série de exibições do filme e debates em comunidades, escolas e instituições ao redor do país, promovendo um diálogo aberto e inclusivo sobre os desafios e as soluções possíveis para combater o racismo estrutural na era digital.