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Com renúncia do presidente da Aprosom, incorporação da entidade pela APRO parece caminho viável

Thomas: melhor uma forte do que uma média

Em entrevista a este Blog no início de abril, Pedro Turra, então presidente da Aprosom, já considerava um desastre a situação do setor em razão da pandemia.

No início desta semana, ele declarou ao “Meio & Mensagem” que iria deixar a entidade e que via como saída a sua incorporação pela APRO.

Comunicado da diretora da Aprosom enviado a este Blog nesta quinta-feira (11), confirmou a renúncia de Turra e a convocação de uma assembleia para definir o futuro da entidade e discutir a ideia de se juntar à APRO.

Thomas Roth, há 40 anos no setor com sua Lua Nova e ex-presidente da Aprosom por dois mandatos, explica que essa solução já foi discutida um dia e que, na sua opinião, é melhor uma entidade forte do que uma média ou uma fraquinha.

Por outro lado, Roth lembra que numa primeira conversa, houve restrições de associados a algumas produtoras de imagem, pelas quais se sentiam preteridas ou exploradas com relação ao valor de seu trabalho.

Para ele, essa discordância e o fato de terem surgido dezenas de concorrentes motivados pelas facilidades tecnológicas, acabou minando as bases da entidade.

“Durante muitos anos as associações, no universo da publicidade, funcionaram no Brasil de forma muito eficaz, entre elas a APRO e a Aprosom. Mais do que um respeito mútuo entre todas, incluindo aí a Abap e a ABA, havia diálogo, negociações claras e transparentes e todo mundo trabalhava conhecendo as regras do jogo, o que já não acontece mais”, diz.

Thomas ressalta que nessa época, todas as agências multinacionais só trabalhavam com produtora de áudio associada à Aprosom e produtora de imagem, associada à APRO.

“Mas houve um momento de ruptura. Alguns clientes começaram a discutir e questionar com veemência a questão dos direitos autorais, fazendo forte pressão para que as mesmas cedessem ad eternum seus direitos, contrariando as leis que regem o direito autoral”, recorda.

Daí, segundo ele, o número de produtoras concorrentes aumentou significativamente. “E com o digital, o mundo ficou menor e, por consequência, se tornou possível ou viável trabalhar com produtoras estrangeiras, que passaram a disputar uma fatia do nosso mercado”, afirma.

Thomas destaca ainda a crescente oferta de coletâneas de trilhas prontas, as chamadas “trilhas brancas”, o que, também roubou uma fatia do setor e “desglamurizou” o trabalho profissional.

Junte-se a isso a prática das “bancas de compra” adotadas por anunciantes e até por algumas agências, acarretando numa extraordinária pressão no sentido de baixar os preços.

“Falo da desigualdade das relações. Do poder. Do dinheiro subjugando a arte, o trabalho. A relação é totalmente desigual. Um cliente que recebe à vista, sujeitar as produtoras a receberem em 60, 90, até 120 dias, é um descalabro! Não somos bancos. Somos cada vez mais pequenas empresas prestando serviços que merecem ser remunerados pelo seu trabalho. Num prazo honesto”, pede,

“Vivi tudo isso de perto e vi o que isso provocou no nosso mercado. Se antes havia entre as produtoras de áudio um clima de cordialidade e respeito, o que se viu crescer, pouco a pouco, foi uma guerra fratricida, até estimulada por alguns dirigentes representantes de quem paga a conta”, denuncia

“Isso provocou uma total falta de confiança, Então, quando percebi, nas reuniões da Aprosom que não havia mais clima pra conversarmos, que ninguém acreditava mais em ninguém, resolvi sair. Depois de um tempo acabei me envolvendo com a Associação Brasileira da Música Independente (ABMI), da qual também acabei me tornando presidente por dois mandatos. E isso acabou fazendo com que eu me afastasse de forma definitiva de Aprosom, Apro & Cia”, continua.

“Hoje, que escolha tem a Aprosom? Ficar à mingua? Claro que não faz sentido. A APRO está aí. A história das duas entidades é muito bonita, construída com muito suor, muita luta, muita resistência, feita por gente muito profissional, muito competente, séria, que ajudou a construir uma indústria que movimenta milhares de empregos”, conclui.