Polêmica

ENEM CONTESTA JINGLE HISTÓRICO

Publicado em

Prova de Física afirma que campanha das Casas Pernambucanas contém incorreções

Sucesso atravessou décadas e permanece

“Não adianta bater, eu não deixo o calor sair. As Casas Pernambucanas não vão deixar o meu lar esfriar. Vou comprar flanelas, lãs e cobertores eu vou comprar… nas Casas Pernambucanas e nem vou sentir o inverno passar”.

Para o assessor pedagógico do Sistema Positivo de Ensino, Danilo Capelari, essa deveria ser a letra cientificamente correta do jingle criado em 1962 por Heitor Carillo e que se tornou ícone da propaganda.

A campanha das Casas Pernambucanas foi matéria de questão da prova de Física do Enem 2019, realizada neste domingo (10), afirmando que “apesar de memorável, o jingle, que extrapolou as fronteiras do rádio e chegou à televisão ilustrado por um desenho animado”, continha incorreções a respeito de conceitos físicos relativos à calorimetria.

Conforme explica o professor, para solucionar essas incorreções, deve-se associar à porta e aos cobertores, respectivamente, as funções de minimizar a perda de calor pela casa e pelos corpos (resposta correta letra C).

Dessa forma, os versos de Carillo, que atravessaram décadas e até hoje são utilizados pela rede de lojas, estavam equivocados: Física: “Não adianta bater, eu não deixo você entrar. As Casas Pernambucanas é que vão aquecer o meu lar. Vou comprar flanelas, lãs e cobertores eu vou comprar… nas Casas Pernambucanas e nem vou sentir o inverno passar.”  

Propaganda original, de 1962

Segundo as leis da Física, o calor sempre passa do corpo mais quente para o mais frio. “Do ponto de vista da termodinâmica, com a abertura da porta, o frio não entra em casa, mas é o calor que sai”, explica. Assim, está errado dizer que alguém não vai deixar o frio entrar. Quanto ao cobertor, segue o mesmo conceito. “Ele funciona como um isolante térmico, evitando com que haja a troca de calor entre nós e o meio. Para que o cobertor fosse capaz de nos aquecer, ele deveria ser uma fonte de energia térmica em potencial, mas não é”, explica Capelari.

O “Friozinho”, porém, é tão conhecido popularmente que gera uma memória afetiva do consumidor até hoje. O sucesso é tão grande que o filme costuma retornar às telinhas a cada inverno.

Em 2018, para celebrar os 110 anos de sucesso da Pernambucanas, a campanha de inverno das Pernambucanas apresentou a garota propaganda Paolla Oliveira finalmente abrindo as portas de sua casa para o tradicional ícone do Friozinho entrar (assista abaixo).

Criado pela agência J. Walter Thompson, a ideia do comercial era mostrar que a marca já está presente há tanto tempo nas casas das famílias brasileiras, que elas já podem até “deixar o frio entrar”, pois a marca conta com uma linha completa de produtos capaz de “aquecer” a todos, até mesmo nos dias mais frios. E não foi apenas Paolla Oliveira que caiu na crença popular. O jingle ganhou a voz de Michel Teló e a estratégia digital teve estrelas como Palmirinha Onofre e Mauricio Arruda.

No inverno de 2019, um remake da animação foi realizado por Guilherme Alvernaz e contou com a modernização de alguns cenários e personagens. Para a coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo, Christiane Monteiro Machado, a Publicidade, com alguma frequência, usa algum tipo de licença poética como essa do comercial original.

“A natureza da mensagem publicitária não exige que as pessoas busquem, por exemplo, aquilo que elas já conhecem sobre Física. Isso explica o fato de a marca não receber críticas por criar um conteúdo que contraria a ciência”, diz.

Segundo Christiane, “com a visibilidade e o assunto em pauta, a marca pode se aproveitar dessa atenção que foi criada para a incoerência entre o que o jingle diz e a realidade da Física, e criar um novo personagem, como o “Calorzinho”, por exemplo, que não sairia de casa”.