Entrevista

OS NOMES DO NOVO ANUÁRIO

Publicado em

Fernando Nobre, presidente do Clube de Criação, e André Gola, diretor de arte do anuário, desafiam o mercado

Nobre e Gola (foto de Luiz Gabreil Gaggetti)

O bom humor habitual nos trabalhos do diretor de Criação da Almap BBDO, André Gola, se transferiu para a direção de arte do 42º Anuário do Clube de Criação, lançado nesta terça-feira (3).

Em referência à publicidade comportada, o livro brinca com o termo “Bundões” e convoca o mercado a se arriscar, assumir uma coragem que há algum tempo deixou de ser a marca dos criativos brasileiros.

A seguir, entrevista com os principais nomes desse anuário: o presidente do Clube de Criação Fernando Nobre, diretor de cena da da Barry Company, e André Gola, diretor de Criação da Almap BBDO.

Nobre é presidente da entidade desde agosto do ano passado e este é o primeiro anuário de sua gestão. Com mais de 20 anos de experiência na carreira, trabalhou como redator na Salles/DMB&B, Lowe Lintas, F/Nazca Saatchi&Saatchi e FischerAmerica. Em 2004 assumiu a direção criativa da JWT e em 2006 participou como sócio da fundação da Famiglia Publicidade. Em 2009 se tornou diretor de Criação da BorghiLowe e em 2011 assumiu a vice-presidência da agência. Conquistou as mais importantes premiações internacionais e nacionais, incluindo 10 Leões em Cannes e troféus no One Show, Festival de Londres e Clio Awards.

André Gola já ganhou 61 Cannes Lions, troféus no D&AD, One Show, Clio Awards, Effie, London Festival, FIAP, El Sol, El Ojo de Iberoamerica, 8 Profissionais do Ano, GP do Prêmio Abril e três vezes o prêmio Melhor Comercial do Brasil, do SBT. Antes de chegar à Almap como diretor de arte sênior, atuou também pela Leo Burnett e Publicis.

A seguir as entrevistas:

FERNANDO NOBRE

Como idealizou o primeiro anuário de sua gestão na presidência do Clube?

Sempre demos total independência criativa ao diretor de Arte escolhido. A única coisa que pedi ao Gola foi que o lançamento do livro acontecesse seis meses depois do anúncios dos ganhadores. Isso era um baita desafio porque vínhamos levando um ano nesta tarefa. Antes, os vencedores eram anunciados durante o Festival do Clube de Criação e, um ano depois, no Festival seguinte, o Anuário era lançado. Isso acabava por envelhecer o livro assim que ele ganhava vida. O Gola teve talento e garra para realizar o Anuário em metade do tempo habitual, nos ajudando assim a “acertar” esse calendário daqui em diante. E o resultado do trabalho está incrível.

O que você considera mais importante, os prêmios concedidos ou o a forma e o conteúdo do anuário?

Os prêmios concedidos são o retrato do ano, espelham a atividade criativa no país. E são parte da memória da propaganda brasileira. O que de mais criativo e relevante fomos capazes de fazer durante 365 dias. Eles são o conteúdo do Anuário. Que vem embalado pela forma. E quando digo isso não me refiro somente à estética, à direção de arte em si, às melhores soluções editoriais para apresentar e dar o devido valor aos trabalhos vencedores. O tema do livro, proposto pelo diretor de Arte e avalizado pelo Clube, tem também o importante papel de refletir algo daquele período de um ano do mercado, ou de provocar reflexões e gerar debates.

Há 42 anos quando foi lançado o primeiro anuário do Clube, a marca que ficou foi o filme “Homem de 40 anos”, primeiro Leão de Ouro do Brasil em Cannes. Como você vê, hoje, os profissionais criativos com mais de 40 anos?

Mais de 40 anos depois e o profissional com mais de 40 anos continua tendo dificuldades no mercado brasileiro. Me arrisco a dizer que em geral, não só em publicidade. Mas no nosso caso isso é um fenômeno que tem alguma relação com a própria natureza novidadeira da nossa atividade. E também porque senioridade custa. Com as margens de lucro cada vez menores, o que acaba acontecendo é que temos cada vez menos vagas para profissionais com mais de 40; É uma economia burra.. Porque o sênior agrega valor ao trabalho, encurta caminhos, afina critérios, antevê problemas e tudo isso é bom para as campanhas, para as agência, para o anunciantes.

A escolha do Andre Gola como diretor de arte obedece à uma lista previamente elaborada ou é uma decisão do presidente do clube?

A escolha do diretor de Arte do Anuário é uma decisão da diretoria do Clube. Naturalmente, ao longo dos anos, alguns nomes emergem como talentos que gostaríamos que realizassem o Anuário e, por ser apenas uma edição por ano, alguns nomes ficam numa lista de espera informal para realizarem edições futuras do livro.

ANDRÉ GOLA

Assinar a capa do anuário do Clube é como ganhar um Leão em Cannes?

É diferente. Assinar a direção de arte do Anuário do Clube é um reconhecimento à carreira como um todo. É pertencer à um grupo de grandes profissionais que tiveram a mesma honra de fazer a arte de um livro que reúne os melhores trabalhos de um ano inteiro do mercado.

Quando trocou a vocação para a Arquitetura pela Publicidade você chegou a criar uma meta pessoal na atividade?

Troquei a vocação de arquiteto pela profissão de publicitário sem querer. Prestei Arquitetura mas a Faculdade na qual passei cancelou o curso naquele ano e me ofereceu o curso de Comunicação. Aceitei e desde então, minha meta foi sempre olhar para os trabalhos que me impressionavam e tentar fazer meu próximo trabalho tão bom quanto.

Esperando sua vez, nesses últimos anos a cada edição você já tinha uma ideia para a capa?

A gente sempre almeja mas nunca acredita que chegará a vez. Sendo assim, sempre tive ideias de como eu faria o Anuário caso fosse escolhido, mas quando revisitei as que sobraram na minha memória, já não gostava mais delas. Parti para pensar em novas ideias. Optei por uma que tivesse uma boa mensagem ao mercado e que eu conseguisse executar com um pouco da característica gráfica presente no meu trabalho pessoal como artista, que é simples e muitas vezes com um certo humor.

Quanto o teu trabalho premiado na Almap contribuiu para sua escolha nesta edição?

Acho que 80%. Praticamente construí minha carreira na Almap. São quase 11 anos. Dez deles ao lado do meu “dupla” Pernil. Quando trabalhava na Leo Burnett, não acreditei quando meu telefone tocou e era o Luiz Sanches me chamando para um papo e para conhecer melhor meu portfolio. Quando me fez a proposta, aceitei na hora. Era meu sonho trabalhar na Almap com Marcello Serpa, Luiz e Dulcidio Caldeira e ao lado de tantos criativos que eu admirava. Sempre acreditei que o melhor aprendizado se consegue com as pessoas que estão ao seu lado. Não posso deixar de citar a importância dos outros 20% de início de carreira em várias agências pequenas e depois na Publicis e Leo Burnett, ao lado de pessoas que admirava como Tião Bernardi, Rodolfo Sampaio, Aricio Fortes (meu primeiro “dupla”), Marcelo Sato (com quem ganhei meu primeiro Leão de Ouro), Denis Kakazu, meu mentor na direção de arte,  Ruy Lindemberg e Carla Cancellara que me ensinaram muito e me ajudaram a estar onde estou hoje.

Para este 42º Anuário você partiu de um tema, uma ideia própria para a direção de arte ou atendeu a um briefing?

Foi totalmente livre. Assim que tive a ideia, apresentei para o Fernando Nobre junto com a Ciça e a Dirce, que adoraram e aprovaram a ideia. Aliás, gostaria de agradecer à elas, que se dedicam como ninguém há anos ao Clube de Criação, e ao Edu Castilho que me ajudou com toda edição e finalização do livro. Ao Gustavo Zylberstajn, grande fotógrafo e amigo desde o início da minha carreira, Daniel Freire, pela produção fotográfica, Sérgio Facundini, pelo tratamento de imagens, Zé Roberto pelo cuidado com a produção gráfica. E, à equipe de revisores e tradutores, além da Leograf que conseguiu viabilizar a impressão do livro.